segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Justiça para todos

Caros amigos, na semana retrasada, como foi amplamente veiculado, ocorreu o assassinato da juíza Patrícia Acioli, em Niterói, Rio de Janeiro, tive a chance de conhecê-la pessoalmente e fiz meu primeiro Tribunal do Juri com ela, tendo como ex-adverso o Dr. Matheus, atuante promotor público. A ilustre magistrada era titular da 4ª Vara Criminal da Comarca de São Gonçalo - RJ. Está vara era responsável pelos julgamentos dos crimes dolosos contra a vida que são de competência do Tribunal do Juri. A magistrada dentre outros, combatia os crimes ligados as mílicias e máfias que existem em São Gonçalo, estas associações tem em sua composição a presença de muitos policiais civis e militares, além de bombeiros e outros agentes públicos da segurança. Condená-los passou a ser a sentença de morte da magistrada. Mas o pior é saber que os seus pares, que agora se mostram indignados nada, ou muito pouco, fizeram para tentar evitar a tragédia anunciada. É triste ver que agora existe um jogo de empurra passa a fazer parte da questão, pois ninguém quer assumir que houve uma falha na segurança da juíza.

Não sei se sabem, mas um ex-presidente do TJRJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), que hoje está presidindo um outro tribunal, tem uma verdadeira legião de batedores e seguranças, compostas ppor muitos carros, motos e policiais. O ilustre magistrado chega ao ponto de fechar ruas, avenidas, rodovias e até mesmo a Ponte Rio-Niterói, para passar. Além disso, possui segurança de agentes públicos 24 horas em sua residência. Não me recordo de ter ouvido falar em nenhuma ameaça a este magistrado. Ou seria majestade? Não me lembro também de ter visto nenhum veículo de comunicação fazer qualquer menção a este fato, até porque o pricipal veículo de comunicação do país é assistido pelo escritório da família do ilustre magistrado.

A única voz que tratou com a veemência necessária o grave fato foi a do ilustre desembargador Siro Darlan, que, em um texto brilhante ( http://www.blogdosirodarlan.com/?p=130 ), faz a seguinte afirmação: "Fica, assim, solucionado o crime: Patrícia cometeu suicídio. Foi atingida por si mesma, 21 vezes, vítima de sua caneta perdida, que se encontrava a desperdiçar tempo mandando para a cadeia milicianos e todo tipo de escória que cresce à sombra do Estado, de sua corrupção e de sua inoperância". Perfeito! considerando as palavras do atual e do ex-presidente do TJRJ, nada é mais explicativo: por, supostamente, não ter requerido a escolta esta não foi dada, então foi suicídio. Mas todos sabiam do risco que a magistrada corria, aliás, quase todos, pois os responsáveis  maiores pelo tribunal não sabiam.

Mas, embora não pareça, tudo pode ser pior, até a explicação pela falta da segurança, pois a família afirma e documentos comprovam que a magistrada enviou vários comunicados de ameaças pedindo providências quanto aos fatos. Ora se isso não é um pedido de segurança, o que seria então? Acho que o grande problema é que o legalismo, virou uma prática nos nossos tribunais, contudo, só é utilizado quando tende a ser favorável a uns poucos. A melhor interpretação é favorável às "melhores" pessoas. Além de tudo, cabe ressaltar que a postura do próprio governador do estado, que disse que poria todo o efetivo policial necessário para cuidar das investigações e que ele mesmo iria se empenhar em buscar a solução do crime, mas em nenhum momento disse que iria apurar o porque da magistrada não contar com escolta policial. Será que existem mais coisas entre o Executivo e o Judiciário do que pode supor a nossa vã filosofia? Acredito que sim e que são coisas podres, muito podres.

Espero que tudo seja realmente apurado, tudo mesmo, inclusive a responsabilidade dos mandatários do poder judiciário do estado do Rio de Janeiro, que foram omissos, negligentes, incompetentes dentre outros adjetivos. Mas o pior é que as medidas, muitas vezes paliativas, vão se mostrar eficazes até que um novo fato aconteça, pois mexer no cerne da questão é mais complicado e requer uma mudança muito mais brusca, mudança esta que não agrada a muita gente, ou melhor, não agrada a poucos que "se julgam" muito.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Ler ou não ler, eis a questão.

Caros amigos, esta é minha primeira postagem, nela faço um convite a uma reflexão, parafraseando Shakespeare: Ler ou não ler, eis a questão. Há poucos dias atrás, me deparei com uma matéria em um canal de televisão onde eram apresentados dados que demonstravam que o brasileiro estava retomando o hábito da leitura, sendo mostrados números que revelavam que nós lemos mais que os franceses. Isso é ótimo, porém um detalhe muito importante não foi abordado: como está a qualidade da nossa leitura? Aliás, este "detalhe" puxa outros bem consideráveis, tais como: como está a qualidade da nossa produção literária? Ler mais significa ler melhor? Considerando conversas que ouço, pessoas que conheço e convivo, familiares, coisas que vejo nas redes sociais... A quantidade está inversamente proporcional a qualidade das obras lidas quanto das exigências dos leitores. Não estou sendo elitista no meu pensamento, apenas acho que o leitor deve ser estimulado a ler obras de boa qualidade e não apenas best seller de gosto pra lá de duvidoso.

Não é verdade que as classes sociais mais baixas não gostam de leitura de boa qualidade, o problema é que, muitas vezes elas não são apresentadas aos grandes autores nacionais e internacionais. Parece aquele velho chavão de que os pobres não gostam de música clássica, ora, quantas vezes o extinto Projeto Aquarius encheu a Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Em dias de apresentações a preços populares o Teatro Municipal do Rio de Janeiro fica cheio, sendo que o público só não é maior porque a divulgação não é grande e não se incentiva mais a população de baixa renda a ouvir este tipo de música. Na verdade, a crise que se dá neste sentido existe também entre as classes economicamente mais providas, visto que entre seus membros mais novos também não se vê o gosto pela produção literária mais apurada.

O grande problema da difusão das grandes obras literárias não é apenas uma questão de educação, mas também de cultura. Há a necessidade de se trabalhar a educação em função do incentivo a cultura, afinal a educação é muito mais do que apenas ensinar a ler e escrever, é incentivar aos aprendizandos que eles tem que buscar a leitura de boa qualidade, relativizar as questões linguísticas e aumentar suas vertentes culturais, procurando diversificar seu conhecimento e formar sua própria opinião. Ler mais e melhor nos leva a formar nossa própria opinião não nos deixando a mercê dos supostos formadores da mesma, que agem como donos da verdade e do saber, tendo a pretensão de serem gurus da informação. Quem lê mais e melhor  não fica vulnerável às informações, mas sim utiliza os fatos apresentados e, contextualizando-os, forma suas próprias convicções.

Como se pode ver, o incentivo a leitura não é necessariamente o incentivo a educação, mas apenas a formação e a "qualificação" de um novo mercado de consumo de bens e serviços. Aliás, considerando a forma como atuam os grandes conglomerados de comunicação a educação como se apresenta servirá apenas para formar pessoas manipuláveis e suscetíveis de aceitar tudo que lhes é imposto pela grande mídia. É uma pena, mas acho que poucos identificaram, ou conseguirão identificar, as fotos que aparecem nas laterais do blog, todos grandes nomes da literatura universal, para facilitar eis os nomes: Gabriel Garcia Marquez ("O Amor nos Tempos do Cólera"); George Orwell ("1984"); Pablo Neruda ("Confesso que Vivi"; e Oscar Wilde ("O Retrato de Dorian Gray"). Outros grandes escritores poderiam ter entrado, mas o texto ficaria mais longo do que já está, contudo entre os autores brasileiros cabe ressaltar os incríveis Graciliano Ramos ("Vidas Secas");  Castro Alves ("Navio Negreiro"); Jorge Amado ("O Cavaleiro da Esperança"); dentre muitos outros.

Bem, como podemos ver, não se pode dissociar a educação da cultura, pois se assim fizermos estaremos em processo de estagnação intelectual, antes de ler mais é preciso ler melhor. O "x" da questão não é a quantidade do que se lê, mas sim a qualidade da leitura, não quero dizer que a leitura fácil não seja importante, mas ela não pode existir por si só, devemos buscar desafios em todos os campos e na leitura o desafio é ler textos mais elaborados, mesmo que voltemos várias vezes para não perdermos, ou para encontrarmos, o fio da meada, isso, ler várias vezes o mesmo trecho, não é vexatório, muito pelo contrário, é uma forma de aprendizado.

Por enquanto tudo isso está no campo da utopia, mas, mesmo que seja nele, é bom saber que existe. Para terminar fica um pensamento do grande escritor Eduardo Galeano: "Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar"

Cláudio Santana Lima